Ainda (e sempre) Otelo A minha avó materna, nascida em 1914, não tinha o que chamaríamos hoje de grande consciência política. Tinha algumas convicções, poucas e absolutamente seguras, que valem o que valem: a de que Salazar e Marcello Caetano eram simplesmente uns "cínicos", o que, para ela, significava que provavelmente pensavam uma coisa e diziam outra; e que Otelo e Jorge Sampaio eram as melhores pessoas que lhe tinham aparecido, no seu julgamento simultaneamente sábio e ingénuo, como figuras políticas depois do 25 de Abril. Várias vezes a ouvi, eu criança, provavelmente passeado por ela em direção ao Mercado de Campo de Ourique, elogiar Otelo - e estamos a falar de 1981, 82, 83. Tal como, depois, a via com imensa atenção às intervenções públicas, na televisão, de Jorge Sampaio.